ANÍBAL NUNES
Dimensão autobiográfica
Sou sertanejo, pernambucano da região mais castigada pelo sol e pelas estiagens, batizado como Aníbal Alves Nunes, 56 anos, filho de Antônio Alves Freire e de Ercília Alves Freire, nascido aos 12 dias de agosto de 1953 numa casa simples, construída em alvenaria, no povoado Pinto Ribeiro, município de Sertânia-PE., onde permaneci até 1960, quando mudamos para a sede do município. Meus pais já haviam encomendado: Alcides, Adailton, Edneuza (falecidos ainda pequenos, por conta da falta de médicos e vacinas no período da segunda guerra), Arnaldo, Paulo, Aníbal, Elba e o caçula Adilson.
Na madrugada gelada de 12 de agosto de 1953, quando minha mãe abria a cancela do curral para ordenhar as quatro ou cinco vacas leiteiras, sentiu as contrações, voltou para casa e acordou Dona Maria Spinelli, sua parteira e de quase todas as mulheres parideiras daquela região de Sertânia. Estava chegando a hora de parir. Meu pai correu, amparou-a, ansioso, nervos à flor do pano, deitou-a em seu leito, foi até o depósito, pegou uma dúzia de fogos e ficou na expectativa. Ao primeiro sinal da parteira:
- “Compadre! nasceu! é homem!”
Meu pai ateou fogo na ponta de pólvora dos fogos e a vizinhança ouviu o ribombar de uma dúzia de rojões. Era a forma de avisar a todos que havia parido menino. Se fosse menina, soltava-se meia dúzia.
Cresci entre os grotões, macambiras e alastrados da região seca e esturricada de Pinto Ribeiro, Soares, Henrique Dias e Mioré. Mesmo pequenino, seis, sete anos, acompanhava meus irmãos para buscar os animais na caatinga. Em 1960, já não tínhamos mais o que estudar na escolinha simples de Dona Auristela com quem aprendemos ler soletrando, escrever caligrafando e contar sabatinando. Era a época da palmatória e do castigo de joelhos sobre sementes de milho. Hoje, dizem que esses métodos eram estúpidos. Realmente eram grosseiros mas formavam homens de verdade e os alunos respeitavam os mestres mais que os pais. Hoje, eles badernam, perturbam, não estudam, não fazem as tarefas, xingam os professores com palavras obscenas, agridem e nada aprendem. A professora Auristela abriu caminhos para advogados, doutores, engenheiros e políticos de renome como o deputado federal Gonzaga Patriota, meu primo, sobrinho do meu pai, matuto do pé rachado, tangedor de burro bravo, leiteiro, telegrafista, chefe da estação e hoje, uma das mais altas vozes que se levanta no Congresso Nacional em favor dos nordestinos humildes.
Os professores daquela época exigiam que os alunos decorassem, sobretudo as lições de vida que davam, para não passar vergonha diante do mundo que teriam de enfrentar. Aquelas singelas mansões do saber formaram gerações de tecnocratas, administradores, parlamentares e empresários. Sertânia tornou-se um celeiro de grandes profissionais e personalidades importantes do Nordeste. Somente na Chesf, um dos maiores complexos hidrelétricos do mundo, dois sertanienses comandaram sua administração: o ex-presidente Mozart de Siqueira Campos Araújo e o ex-diretor de engenharia e construção Leonardo Lins de Albuquerque.
Nascí com veia artística extrema vocação para as artes. Desde pequeno fazia rabiscos, desenhava, misturava cores em pedaços de papel. Aos 10 anos de idade já pintava quadros, escrevia poemas, compunha músicas e tocava nos violões de Roberto Fogueteiro, Lourdinha de Marinho e Gildo, porque meu pai não podia sequer sonhar que eu fosse um violonista. Tornei-me artista plástico aos 13 anos e aos 14 resolvi girar o mundo e viver da arte. Tenho mais de quinhentas telas espalhadas no Brasil e no exterior. Compus mais de cem melodias e em agosto de 1997 gravei meu primeiro CD em estilo romântico. No momento estou preparando o segundo CD. Esse fala do sofrimento dos nordestinos, da seca que assola o nosso chão, da esperança do nosso povo altaneiro e rende uma homenagem a Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião".
Durante dez anos fui professor de Educação Artística, Desenho, Inglês, Marketing e outras matérias no Colégio Sete de Setembro. Consegui transmitir para os mais de cinco mil alunos no período, um pouco do muito que aprendi nas escolas da vida. Com o poema "Dama Luz do Nordeste", conquistei o 1º Lugar do Prêmio Chesf de Poesia. Em seguida transformei o poema em música a qual foi inserida no CD dos 50 anos da Chesf. Sou jornalista sem diploma. Tenho 20 anos de experiência no ramo, mas não gosto de ser chamado como tal, porque não cursei nenhuma Faculdade de Comunicação. Como escultor pretendo deixar uma estátua com a figura do maior amigo que encontrei em Paulo Afonso, o nosso saudoso bispo Dom Mário Zanetta. No teatro, tudo começou quando apliquei uma atividade valendo nota em sala de aula. Atribuí a uma equipe de dez alunos do primeiro ano do 2º grau, a missão de formar um grupo de teatro para apresentar a peça “Paixão de Cristo” em sala de aula. Prestei as informações, luzes, indumentária, script, tempo de cena e ensaiamos durante 15 dias. O trabalho se tornou tão importante que antes do Natal, oitenta alunos já dispunham de todo equipamento, som, palco, propaganda e patrocínios. A peça foi apresentada para um público de 20 mil pessoas em frente à Catedral de Fátima em Paulo Afonso, nos natais e semanas-santas, durante quatro anos consecutivos.
Sou publicitário de berço porque desde cedo aprendi a ganhar a vida misturando as cores. Cheguei a Paulo Afonso, sozinho, em meados de 1969 com 16 anos de idade, onde me tornei publicitário profissional. Tinha somente a educação básica fundamental, iniciada no povoado Pinto Ribeiro com a professora Auristela, em seguida na Escola Vila Operária (EVO), com a professora Hélia, depois no Ginásio Industrial Amaro Lafayette (GIAL) atual Escola Estadual Amaro Lafayette e Ginásio Olavo Bilac (GOB), atual Colégio Estadual Olavo Bilac.
Aqui chegando residi em casas de amigos até conseguir estrutura e independência. Seis meses depois, montei meu atelier e durante 15 anos prestei serviços de publicidade visual na região.
Em 1970, meus pais e meus irmãos resolveram morar em Paulo Afonso. A cidade tinha muito a oferecer a eles e, principalmente, aos quatro irmãos: Arnaldo, Antônio Paulo, Maria Elba e Adilson.
Em 1973 conclui o Curso de Madureza na escola do professor Olegário Inácio da Silva, prestei exames e fui aprovado pela Secretaria Estadual de Educação.
Em 1976 realizei os Cursos Técnicos de Contabilidade e de Administração de Empresas no Colégio Sete de Setembro.
Em 1977 residi em São Paulo com meu irmão Arnaldo, onde montei uma agência de propaganda em Diadema e iniciei o Curso de Edificações (Auxiliar de Engenharia). O trabalho constante, estudos, atividades e a desgastante locomoção para o curso fez com que abandonasse tudo em setembro e retornasse para Paulo Afonso.
Em 31 de dezembro do mesmo ano, casei com Ana Maria Bezerra. Do casamento tivemos três filhos: Herycksson, Jefferson e Aníbal.
Em 1978 iniciei uma nova fase em minha vida. Tornei-me professor de Educação Artística, Desenho, Inglês, Marketing e Administração e Controle I e II, nas turmas de 1º e 2º graus do Colégio Sete de Setembro.
Em 1978, a fim de aprimorar meus conhecimentos, participei do Curso de Administração de Vendas, através da Fundação de Desenvolvimento Comercial do SEBRAE, em Salvador-BA.
Em 1979 recebi honrarias do Jornal Tribuna da Bahia, pelos serviços prestados como correspondente da representação em Paulo Afonso.
Em 1979, recebi do Ministério da Educação e Cultura, Diploma de Honra ao Mérito pela participação no Desenvolvimento Intelectual do País.
Em 1979 recebi do Jornal de Alagoas, Diploma de Honra ao Mérito pelas reportagens produzidas no sertão alagoano.
Em 1980 recebi do Ministério das Comunicações, através da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Diploma de Honra ao Mérito pelo Talento Artístico e Espírito Cívico apresentado no Salão da Independência.
Em 1982, fui novamente agraciado pelo Jornal de Alagoas, pelo serviço prestado à empresa, quando gerente da representação em Delmiro Gouveia.
Em 1979 decidi ingressar na Faculdade de Arcoverde, reconhecida pela Universidade Federal do Pernambuco, concluindo o Curso de Biologia em 1984.
No mesmo período realizei sete cursos de Extensão Cultural: Matemática I e II, Biofísica I e II, Bioquímica I e II e Inglês Básico.
No mesmo ano participei do Projeto Rondon defendendo o tema: "Ciências, Sociedade e Escola Moderna".
Em 1978, a fim de aprimorar mais meus conhecimentos, realizei o Curso de Chefia e Liderança através do Senac/Salvador.
Em 1980 conclui o Curso de Mestre de Obras, obtendo notas excelentes dos professores das Escolas Associadas de São Paulo. No mesmo ano participei dos cursos de Prevenção de Acidentes e Legislação Trabalhista, todos oferecidos pelo Senac/Salvador, com duração de 90 dias cada.
Em 1980 implantei a Colônia Teatral Apolônio Sales que, por quatro anos consecutivos, encenou com 50 artistas e figurantes, as peças “Nascimento de Cristo” no Natal e “Paixão de Cristo” na Semana Santa, em frente à Catedral de Fátima em Paulo Afonso.
No ano de 1984, assumí a cadeira de Estatística no Colégio Municipal de Glória com três turmas de segundo grau.
Em 1985 participei da Jornada Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado da Bahia.
Em 1985 recebi das mãos do Comandante da 1ª Companhia do Exército em Paulo Afonso, “Diploma de Amigo da Infantaria”.
Em dezembro de 1987, deixei as representações dos jornais Tribuna da Bahia, Jornal de Alagoas e Jornal do Commercio e me dediquei na fundação do meu próprio meio de comunicação.
Em 15 de março de 1988, em pleno aniversário da Chesf, o primeiro exemplar da Gazeta da Bahia foi entregue ao saudoso cantor Luiz Gonzaga, já trazendo a matéria do seu show no ginásio de esportes do Clube Paulo Afonso (CPA).
Em 1992, a Câmara Municipal concedeu-me o “Título de Amigo da Cidade de Paulo Afonso", fato que me motivou ainda mais a sair candidato a uma vaga no Legislativo, tendo sido derrotado nas eleições.
Em 1993 realizei exposição de telas na Feira dos Municípios, em Salvador onde pintei um gigantesco painel exposto na feira, com outros pintores da Bahia.
Em 1994 realizei palestras sobre drogas e violência em vários colégios de Paulo Afonso, solicitei apoio da Rede Globo para divulgar a onda de violência, com a finalidade de alertar as autoridades para o caos que se instalava em toda a região de Paulo Afonso.
Em 1995, recebi convite de minha prima Eliane e seu esposo Earl Bhere para conhecer Miami, participar de exposições de pinturas e desenvolver outras atividades nos Estados Unidos.
Em 1996, intensifiquei o trabalho de gravação do meu primeiro CD, que foi concluído em setembro e lançado no ano seguinte. Todas as cópias foram vendidas.
Em 1996, acompanhei o jornalista José Raimundo em reportagens para a Rede Globo sobre os cenários turísticos, as maravilhas e encantos do rio São Francisco e a Cachoeira de Paulo Afonso.
Em 1997, recomecei as palestras nos colégios, massificando os temas: drogas, aborto, violência urbana, prostituição de menores e criminalidade.
Em 1998, iniciei às músicas para o segundo CD, proferi inúmeras palestras em colégios particulares, estaduais e da rede municipal, sobre os mesmos temas abordados anteriormente.
Em 1999, realizei palestras em outros colégios que ainda não haviam sido beneficiados, sobre os temas citados anteriormente, inclusive no 20º Batalhão da Polícia Militar de Paulo Afonso para soldados daquela corporação.
Em 1999, ajudei a compor dois importantes documentários: o livro “Nós Fizemos Paulo Afonso” em parceria com o seu autor, Euclides Batista Filho e, ainda a quatro mãos, com o mesmo autor, confeccionamos a revista “Assim Nasceu Paulo Afonso”, com 200 fotografias históricas.
Em 1999, acompanhei o jornalista José Raimundo em parte da reportagem sobre os caminhos do Rio São Francisco. A matéria foi editada para o Globo Repórter, desde a nascente do rio, na Serra da Canastra-MG, até a foz em Penedo-AL.
No ano 2000, dediquei-me a realização de palestras nas escolas municipais, colégios estaduais e particulares de Paulo Afonso, solicitei obras, serviços e arborização do Jardim Bahia (bairro onde resido), compus músicas, poemas e atividades relativas às edições da Gazeta da Bahia e, principalmente deste livro.